sábado, 14 de maio de 2011

Jomilia de Ordenação Episcopal de D. Teodoro, bispo auxiliar de Belém - Pará.


Homilia da ordenação episcopal de Dom Teodoro Mendes Tavares, bispo auxiliar de Belém.

Fonte: Jornal Voz de Nazaré - 13/05/2011

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Santa Maria de Belém do Grão Pará.

"Senhor presidente da República, senhor primeiro-ministro e demais autoridades civis e militares, senhora embaixadora do Brasil e membros do corpo diplomático acreditado junto ao Governo de Cabo Verde, caríssimos irmãos Arcebispos e Bispos, presbíteros e diáconos, religiosos e religiosas, membros de comunidades de vida, familiares de padre Teodoro Mendes Tavares, irmãos e irmãs desta terra abençoada e da Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão Pará, que recebe hoje seu novo Bispo Auxiliar.

Nesta manhã, a terra se une ao Céu e vários motivos nos fazem proclamá-lo. Neste espaço sagrado, o Beato João Paulo II celebrou a Santa Missa, quando em visita a Cabo Verde, bem aqui onde a orla de terra nos faz olhar para o oceano imenso, aberto como o infinito que nos chama para Deus. O sucessor de João Paulo II, nosso Papa Bento XVI, nomeou um filho da aldeia Principal, Bispo Auxiliar de Santa Maria de Belém do Grão Pará. É a primeira vez na história que um sacerdote africano é nomeado Bispo para terras da América. A África dá de si mesma a outro país e outro continente, oferecendo o que tem de melhor, um filho consagrado a Deus. Padre Teodoro é sacerdote espiritano, congregação com significativa folha de serviços apostólicos em Cabo Verde e em tantas partes do mundo, especialmente da África. Diante de todo o povo aqui reunido, os bispos presentes, pela imposição das mãos e a oração consecratória, ordenarão para o ministério episcopal este jovem sacerdote missionário. De fato, o Céu deve ser assim, onde tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (Cf. Rm 8, 28). Deus seja louvado por todos estes dons.

Há poucos dias, a comitiva de Belém teve a alegria de visitar a aldeia onde nasceu e foi formado padre Teodoro. Com tal visita, começamos nossa meditação. Subimos desde a Capela da Sagrada Família, conduzidos pelo exemplo de nosso Arcebispo Emérito Dom Vicente Joaquim Zico, olhando para frente e para o alto. Malgrado as pedras do caminho, os cristãos buscam as coisas do alto e não olham para os eventuais achaques gerados pelo cansaço ou pelas dificuldades de saúde. Lá encontramos fogo aceso, sombra amiga, saudações, acolhimento, música, fartura à mesa, alegria. Ali tínhamos o desejo de permanecer, não abandonar o privilégio da convivência. Seria bom construir três tendas! Porém passamos logo a outra mesa, a da Palavra de Deus e a da Eucaristia, celebrada na Capela da Sagrada Família, enfeitada pelas árvores, pelo canto, a oração, a piedade do povo. Foi natural passar de "Principal" com a mente e o coração para a Aldeia de Emaús e meditar sobre o episódio narrado pelo Evangelho há pouco proclamado. Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus!

De fato, os dois discípulos que retornavam à sua casa após os acontecimentos dolorosos da paixão acabaram por abrir seus olhos justamente em torno à mesa de uma refeição. Um desconhecido, fazendo-se passar por andarilho ignorante dos fatos, caminha com eles. Justamente aquele de quem humanamente não se poderia esperar muito, abre-lhes os olhos para entenderem as Escrituras e tudo o que dizia respeito ao Cristo. Chegados a Emaús, era tão bom tê-lo como companheiro que brotou-lhes espontâneo o pedido: "Fica conosco, pois já e tarde e a noite vem chegando!" Jesus entrou para ficar com eles, partiu o pão - o primeiro nome da Eucaristia foi "fração do Pão - seus olhos se abriram e, com novas disposições, dirigiram-se a Jerusalém, onde a Igreja reunida já testemunhava o Senhor ressuscitado, que aparecera a Simão Pedro. Seus corações ardiam de alegria e os quilômetros percorridos pareceram-lhes apenas um passo. Não havia mais cansaço! Quando Deus está presente, tudo contribui, sol e calor, vento ou nuvens, para o bem dos que o amam!

Caríssimos irmãos e irmãs, aqui estão seis fontes da presença de Deus. "Ele está dentro de nós!" Nosso coração arde de alegria quando o encontramos, quando lá dentro podemos olhar, olhos nos olhos, para aquele que amamos. Ele está no meio de nós, como dizemos na Santa Missa, todas as vezes que unidos, em qualquer parte, nos amarmos uns aos outros! É o mesmo Senhor presente, aqui, no Brasil ou em qualquer parte entre aqueles que se querem bem. Ele está em sua Palavra. A fé vem pela pregação e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10, 17)! Ele está presente no próximo, pois o que fizermos ao menor dos irmãos é a Jesus que o fizemos (Cf. Mt 25, 40). Jesus está presente na Eucaristia. Ele é "Pão vivo para a vida do mundo" e lhe pedimos todos os dias: "dá-nos sempre deste pão" (Cf. Jo 6, 34). Ele está presente na Igreja! Na palavra de Pedro e dos Apóstolos, e nos Bispos, lá está o Senhor. "Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou" (Mt 10, 40).

Sabemos que receberam do próprio Cristo a missão, pois "os onze discípulos voltaram à Galileia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se aproximou deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28, 16-20). Na Igreja, irmãos e irmãs, estão as fontes da presença de Deus. Por isso todos juntos, a cantar se alegrarão (Cf. Sl 86, 7). Ao findar de nossas jornadas diárias e ao pôr-do-sol de nossas vidas possamos todos dizer com Simeão "meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo" (Lc 2, 30-32). Tudo terá contribuído para o nosso bem, tendo passado o tempo e a vida no amor a Deus.

Daqui a pouco a liberalidade do amor de Deus fará um novo Bispo, já eleito pelo Papa bento XVI, que será ordenado pelos Bispos presentes. Queremos conversar com ele. Primeiro um agradecimento, vindo do coração: como aconteceu com Moisés, certo dia, tu chegaste ao monte de Deus. Do modo só conhecido por Deus e por ti, não sei se carregando palhas, ou quem sabe conduzindo ovelhas, subindo ou descendo pelos caminhos de tua Aldeia, notaste que havia algo de novo parecido com uma sarça em chamas que não se consumia. Vendo o Senhor que te aproximavas, não uma, mas muitas vezes, escutaste sua voz que pronunciava teu nome. E tu disseste "Eis-me aqui". Obrigado pela tua resposta, pelo teu "Eis-me aqui". A Amazônia brasileira te agradece, a Igreja em Belém te agradece! Como é sagrado este lugar em que nasceste, também é sagrado o solo da Amazônia, onde foste e continuarás missionário! (Cf. Ex 3, 1-6) Em tua vida, tudo contribui para o teu bem e o bem de todos, pois amaste o teu Senhor!

Padre Teodoro, cheguem ao teu coração dois pedidos que encontramos nos Evangelhos. Com a santa e bendita ingenuidade do apóstolo Filipe, queremos dizer-te: "Mostra-nos o Pai, isso nos basta". Jesus respondeu: "Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu o Pai!" (Jo 14, 8-9) Parecidos com alguns gregos que tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa, nós nos aproximamos do próprio Filipe e dizemos: "Queremos ver Jesus". Queremos que fales de nosso desejo com Jesus (Cf. Jo 12, 20-22). Sim, caro padre Teodoro, queremos ver o Pai, queremos ver Jesus, queremos, através do ministério que te é confiado, beber das fontes de Deus! Sabemos que Deus te deu todas as graças para que em nossa vida tudo concorra para chegarmos a Ele!

É missão do Bispo desempenhar por toda a vida a missão recebida de Deus. Nós te reconhecemos ungido pelo Espírito Santo! De tua boca e testemunho, o povo aqui presente e o povo de Belém esperam o Evangelho, a palavra que liberta e transforma. Sabemos que esta ordenação te incorpora à legítima tradição apostólica, em comunhão com o Papa e os outros Bispos. Somos felizes porque não estamos diante de alguém que tivesse criado para si um ministério ou um grupo religioso. Estamos contentes por sabermos que o tesouro da fé se conserva íntegro em tua pessoa e ministério. Queremos ser conduzidos pela tua vida de Bispo, de modo que nossos corações ardam de alegria por sermos cristãos. Contamos com teu serviço de comunhão, para que o Senhor esteja sempre no meio de nós, pois chamados ao amor mútuo, como Jesus nos amou. Com teu exemplo de bom pastor, queremos que muitas ovelhas errantes, muitos pobres, peregrinos e necessitados sejam acolhidos e amados, perdoados e reconciliados com o Pai. Reunidos pelo teu sacerdócio em torno do altar da Eucaristia e para a oração, seja-nos concedida a graça de sermos povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. "Vela, pois, por todo o rebanho dos fiéis a cujo serviço te coloca o Espírito Santo para reger a Igreja de Deus: em nome do Pai, de quem és imagem entre os fiéis, em nome do Filho, cuja missão de mestre, sacerdote e pastor exerces; e em nome do Espírito Santo, que dá vida à Igreja de Cristo, e fortalece a nossa fraqueza" (Exortação do Ritual da Ordenação de um Bispo), sabedor do amor eterno que te conduziu até aqui e que tudo contribui para o teu bem e o bem da Igreja.

E todos vós, irmãos e irmãs, acolhei com alegria e ação de graças este nosso irmão, que nós, Bispos aqui presentes, associamos ao colégio episcopal pela imposição das mãos. Que ele seja honrado como ministro de Cristo e dispensador dos mistérios de Deus, pois a ele foi confiado testemunhar a verdade do Evangelho e o ministério do Espírito e da santidade! (Cf. Exortação do Ritual da Ordenação de um Bispo)".

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